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Fotografia: Julio Bittencourt
É antiga na arte e na literatura a presença da janela, muitas vezes indiscreta, reveladora de mistérios ou que instiga a curiosidade.
Mas no caso de Numa janela do Edifício Prestes Maia 911, resultado do olhar alerta e indagador do fotógrafo Julio Bittencourt, vencedor dos prêmios Leica Oskar Barnack 2007 (Alemanha), Portfolio Pick Review Aperture 2007 (EUA) e Fundação Conrado Wessel de Arte 2006 (Brasil), trata-se de janelas que enquadram, com inegável originalidade, de preferência os objetos mais interessantes sob a face da terra: homens e mulheres. E sem nenhuma indiscrição, pois as pessoas-personagens no livro - se postam com naturalidade para revelar esse momento único captado pelo fotógrafo, que as selecionou e, de algum modo, socialmente as iluminou.
Vale notar que o edifício Prestes Maia 911 é a maior ocupação vertical da América Latina e não se trata, no caso, de um ícone de beleza arquitetônica. Reinam aí, nas pessoas como belamente mostram as fotos humildade social, anonimato. As janelas detectam um tipo de vida que se leva em São Paulo, e as pessoas se fundem com elas, são parceiras. E é nisso que o olhar do fotógrafo vai fundo e verte, para testemunho em livro, um documento que parte de um material em vários aspectos decadente e socialmente irremediável.
Como observa Ronaldo Entler, que apresenta a obra, aqui se mostra a decadência dos materiais e a dignidade que sobrevive por trás deles.
Mas não basta. Se o que se apresenta com as fotos é socialmente forte, por vezes rústico, o livro chega a alcançar em algumas fotos a condição de metáfora ou símbolo. Talvez seja o caso da fotografia às páginas 26-7, em que aparentemente roupas dependuradas preenchem a foto. No entanto, os rabiscos e desenhos no vidro da janela, como uma escrita paupérrima e, claro, as roupas, apontam a presença do homem, transtornando o sentido de apenas coisas fotograficamente observáveis.
O livro, então, pode ser visto como um contundente documento sobre o modo de morar em São Paulo, com alguns de seus absurdos.
No entanto, também uma revelação de um comovente encontro entre o fotógrafo e um dos fragmentos mais conhecidos e problemáticos de São Paulo.
Projeto gráfico Emanuel Della Nina
28x28 cm | 80 páginas | português
fotos coloridas
ISBN 978-85-7234-378-7
Código | 171 |
Código de barras | 978-85-7234-37 |
Categoria | Fotografia |